Cobogó, ícone brasileiro
Arquitetura
Cobogó! Você provavelmente já deve ter ouvido esta palavra – ou combogó, como também é chamado. Se você ainda não ouviu falar, certamente já deve ter visto este elemento arquitetônico originalmente brasileiro e nordestino, presente nos mais variados tipos de construções. Durante muito tempo ele era utilizado apenas em fachadas e áreas externas, mas hoje invade o interior e tem seu uso difundido com várias releituras e, por isso, resolvi falar dele nesse post.
Sua criação
O cobogó foi criado e patenteado em 1929, em Recife, e partiu da ideia de três amigos que, diante do clima tropical da cidade em que moravam e trabalhavam, viram a necessidade de se pensar em um elemento diferente que pudesse amenizar o clima nas construções sem vedar as paredes, permitindo uma maior circulação de vento, bloqueando o calor e permitindo a entrada de luz natural. Com essa ideia em mente, o comerciante português Amadeus Oliveira Coimbra, o alemão Ernst August Boeckmann e o engenheiro pernambucano Antônio de Góes criaram o COBOGÓ, nome formado pelas sílabas iniciais do último nome de cada um.
Folha de rosto da patente e um desenho esquemático do projeto.
Inspiração
A inspiração para o formato veio da cultura árabe, os mashrabiya, ou muxarabis em português.Ssupõe-se que a ideia surgiu após uma viagem que Ernst fez para Índia. Os muxarabis são painéis normalmente feitos de madeira, treliças, perfurados em formas geométricas e largamente utilizado em projetos de interiores para separar os ambientes e filtrar a entrada da luz solar, já que a região do oriente é abundante neste quesito. Essa treliça árabe foi trazida ao brasil pelos portugueses através da influência da arquitetura moura já presente em seu país e foi muito utilizada por aqui durante o período colonial.
Uso difundido nas mãos de arquitetos
Uma das primeiras obras a receber este elemento foi a Caixa d’água de Olinda, construída em 1934 pelo arquiteto mineiro, radicado em Recife, Luiz Nunes. Localizada no Alto da Sé, ela é um dos primeiros edifícios de expressão a utilizar o material nesta escala, fechando toda a fachada com o elemento até então desconhecido.
Caixa d’água de Olinda, Luiz Nunes
Mais tarde, nas décadas de 40 e 50, o cobogó começa a ganhar um espaço maior, principalmente com o plano piloto na construção da nova capital e, ao cair nas mãos dos arquitetos modernistas Oscar Niemeyer e Lucio Costa, ganhou o mundo e recebeu uma atenção maior, sendo usado em várias de suas obras. Com o passar dos anos, o fato do cobogó ser utilizado em fachadas posteriores, áreas de trânsito e de serviço, fez com que o seu uso diminuísse, mas agora o ciclo recomeça, pois nos últimos anos este elemento voltou com força na arquitetura e na decoração.
Casa cobogó, Ney Lima
Pavilhão de Nova York 1939, Lucio Costa e Oscar Niemeyer
Edifício Brasília, Lucio Costa
Casa b+b, Studio Mk27
Restaurnate Disfrutar, El equipo criativo
Novas formas, novos usos
Assim como o seu uso, o material e o formato do cobogó também passaram por várias alterações ao longo dos anos e o que era geralmente feito em concreto passou a também a ser produzido em cerâmica esmaltada, vidro, ferro, pvc, acrílico, madeira e ganhou cores vibrantes e formas mais ousadas.
Assim, este versátil elemento passou a compor interiores e ganhar destaque, seja como apoio do balcão, uma divisão entre ambientes e até como elementos de decoração, fato que não era comum há alguns anos.
Fica o alerta de que, apesar de toda a sua versatilidade, o cobogó não deve ser utilizado com caráter estrutural, evitando grandes cargas sobre eles e sendo apenas usado como alvenaria de fechamento.
Fique atento na hora de usá-lo em seu projeto, não se deve apenas pensar na função estética, mas analisar as funções que ele irá cumprir, em como será a projeção da sua sombra, quais ambientes ele irá “esconder”. A limpeza também deve ser um fator a ser considerado, já que há uma facilidade maior de acúmulo de poeira.